Com o objetivo de compartilhar com vocês o meu dia-a-dia do consultório, e para que sigamos aprendendo juntos, decidi escrever hoje o meu relato sobre a amamentação.
Na formação de pediatria aprendemos muito sobre curvas, crescimento e nutrição, e quase nada de como manejar a amamentação.
Meu paciente, L.M.S nasceu em um parto hospitalar humanizado, é o primeiro filho de um casal, que, como todos os pais de primeira viagem, tinham muitas dúvidas.
Fui chamada pela família para sua primeira consulta, uma consulta domiciliar, 2 dias após a sua alta da maternidade. O bebê apresentava um quadro de icterícia (quando a criança fica amarelinha) e um possível quadro de baixa ingesta (quando o bebê fica desidratado devido a não estar recebendo alimento suficiente).
De fato, o bebê estava desidratado, bem amarelo, usando o intermediário de silicone e a chupeta. Orientei aos pais sobre como retirar o intermediário, expliquei sobre a amamentação e pedi para retornarem no consultório. No retorno, já tinham conseguido retirar o bico de silicone, mas mesmo assim, quando coloco na balança percebemos que o bebê havia perdido mais peso.
Diante deste quadro, emprestei minha bomba elétrica para ordenhar o seio e recomendei: vocês vão ordenhar assim que chegarem em casa e vão me informar a quantidade que conseguirem retirar, independente de ser 1, 10 ou 20 ml, e fiz a receita da fórmula caso fosse necessária.
Em casa, o resultado da ordenha foram 20 mls: UFA!
A mãe pode oferecer somente seu próprio leite, direto do peito e o que conseguiu ordenhar. Em 2 dias eles voltaram no consultório e finalmente o mocinho havia começado a ganhar peso.
Essa recomendação seguiu sendo adotada por um tempo, tendo sido acrescentada a orientação para a retirada da chupeta. Com isso o bebê manteve a velocidade de crescimento e foi possível retornar a amamentação apenas no seio, já sem ordenhar, sem intermediários e sem chupeta.
Já, durante a consulta de 2 meses os pais se queixaram de que o bebê acabava “passando o dia todo no peito”, dormia mamando e quando saia do peito acordava querendo mamar novamente.
Nesta consulta, inicio a avaliação, e verifico que o ganho de peso estava adequado, mas muito limítrofe, o que merecia uma atenção, já que ainda estava com velocidade de ganho de peso abaixo da esperada.
Acabo por avaliar tudo novamente: será que a língua ainda estaria posterioriorizada pela chupeta? Será que seria alergia ao leite de vaca (APLV)? Um quadro de refluxo? Parecia que nada se encaixava para um diagnóstico!
Decidi que o mais adequado seria retornar a ordenha 1 vez ao dia e oferecer ao bebê. Os pais fizeram a orientação por apenas 10 dias e, ontem, retornaram ao consultório para a consulta de 3 meses.
Para a nossa feliz surpresa: TCHARANNN! O peso estava na curva e voltando ao padrão de nascimento.
Qual era a causa? Não posso afirmar! Mas com apoio dos pais e acreditando que o bebê buscaria a sua curva em algum momento, valorizando a importância de um catch up lento, as coisas aconteceram.
Um comentário em “Caso de amamentação de uma Pediatra”
Amei o relato !!!
Parabéns pelo excelente trabalho e por acreditar na amamentação !!!
Gostaria de parabenizar também , o fato de orientar sobre a retirada da chupeta !
Fonoaudióloga Ingrid