A tecnologia e a relação com nossos filhos

Somos bombardeados com opções tecnológicas todos os dias, e com nossos pequenos isso não seria diferente. São diversas opções de brinquedos, acessórios, utensílios e equipamentos para a segurança, nos mais diversos segmentos.

O que acontece é que muitas das tecnologias desenvolvidas para o público materno-infantil que auxiliam no dia a dia podem ter um aspecto negativo em relação a um uso mal empregado ou em excesso.
Assim como acontece com os adultos, uma grande exposição às tecnologias e a falta de contato com outros brinquedos ou objetos do dia a dia pode tornar o uso das tecnologias prejudicial ao desenvolvimento e a saúde da criança a longo prazo.
No consultório venho percebendo algumas coisas: a sociedade deseja que a criança não chore e a indústria vende várias “possíveis soluções”. Aplicativo para imitar o som do coração da mãe dentro da barriga, chupeta para a criança não precisar ficar tanto tempo no seio, cadeirinhas que tocam música, chacoalham, que tentam imitar o balanço do colo da mãe, são alguns exemplos.
Eu defendo um cuidado, dentro do possível, mais naturalizado. Mas também entendo que alguns instrumentos ou produtos auxiliam em momentos de maior cansaço, algumas tecnologias se mostram bastante úteis e não merecem ser descartadas baseadas apenas no discurso da naturalização, é necessário analisar caso a caso.

O equilíbrio na sua utilização é chave para o sucesso.

A utilização da tecnologia precisa ser feita de maneira consciente. É natural que existam momentos do dia em que o uso de tecnologias seja um aliado do cuidador. Situações como ir ao banheiro, tomar um banho e cozinhar, se tornam mais fáceis com alguma ferramenta de distração que funcione como um “auxilio” ao cuidador.
O uso da tecnologia com consciência também precisa ser um hábito do cuidador e da família como um todo. A criança será um produto do seu meio, e desde os seus primeiros meses repete os principais hábitos dos pais, logo, a atenção e cuidados com os exemplos que damos tem muita relevância quando o assunto é utilização de tecnologias.
Você já reparou como as crianças gostam mais de brincar com o celular de verdade ou até mesmo com um controle remoto do que com seus brinquedos coloridos e chamativos?
Por mais estímulos visuais e sonoros que os brinquedos próprios para crianças tenham, a criança é reflexo do que ela vê e do que ela percebe ao seu redor. O que é uma ótima oportunidade para criarmos bons hábitos a partir de bons exemplos.
A conexão existente entre pais, filhos e cuidadores em razão do convívio é muito profunda, para a construção de laços e hábitos importantes para o crescimento e desenvolvimento do bebê.

Cada família uma realidade

O que tento trabalhar com as famílias é a conexão com os seus filhos para além de rótulos impostos pela sociedade, mas de acordo com a realidade de cada uma das famílias, já que não existe um modelo ideal. É necessário entender e aceitar essa nova realidade de vida após nos tornarmos pais e mães. A vida real se diferencia das expectativas que criamos para nós mesmos.
Realmente, pode ser muito cansativo ter que fazer o bebê dormir sem chupeta, fazer ele parar de chorar sem amamentar ou ir a um restaurante sem entretê-lo com o ipad.
Mas, e se ao invés de focarmos em distrair a criança em situações de cansaço do cuidador, nos voltássemos para o cuidador com maior atenção?

Vamos cuidar do cuidador

O cuidador é o responsável pelo filtro entre todos os possíveis estímulos externos com os quais a criança terá contato. Assim, a atenção com o estado deste cuidador para a realização de suas tarefas deve ser levada em consideração.
É preciso olhar para o cuidado com os cuidadores antes de desejarmos mais e mais tecnologias para auxiliá-lo.
A interação com o bebê precisa de presença e qualidade, e isso requer um cuidador são.
O que os cuidadores precisam é de acolhimento e informação para enxergarem seus limites e administrarem as tecnologias da melhor maneira possível.
Importante estarmos atentos à necessidade de acolhimento dos cuidadores e em especial da mãe, para que eles possam desenvolver com atenção e qualidade a proposta de naturalização do cuidado.
O problema não é utilizar a tecnologia para distrair a criança durante uma viagem, por exemplo. Mas sim, utilizar em momentos preciosos de interação onde você deveria estar presente e disposto para relacionar-se com seu filho.
Espero que este texto nos ajude a refletir um pouco sobre a nossa relação com nossos filhos, com nós mesmos enquanto cuidadores, e com as ferramentas tecnológicas.



Sobre o autor

Dra. Fernanda Lima

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