Desenvolvimento infantil e criação com apego

Desenvolvimento infantil e criação com apego

Formação de vínculos para além dos rótulos!

As relações de apego com pais e outros cuidadores são as mais importantes e influentes da primeira infância.

São esses relacionamentos que vão nortear o funcionamento fisiológico dos bebês, as interpretações emocionais e cognitivas de suas experiências sociais e não sociais.

Além disso, ajudam no desenvolvimento da linguagem e na aquisição de significados sobre si mesmos e sobre os outros em situações sociais complexas.

Mas como podemos contribuir para o desenvolvimento de um apego seguro?

Primeiro, existem quatro tipos diferentes de apego:

Apego seguro:

Padrão em que o bebê chora ou protesta quando o cuidador principal se ausenta, procurando-o ativamente quanto este retorna.

Crianças com apego seguro demonstram flexibilidade para explorar o mundo e o ambiente ao seu redor, entendem o mundo como um lugar seguro, mesmo distante das figuras cuidadoras.

Elas têm segurança e confiança em si mesmas como pessoa competente e capaz, além de grande facilidade de interação e cooperação com os outros.

Apego evitativo:

Padrão em que o bebê chora quando separado do cuidador principal, evitando contato quando este retorna.

Essas crianças não buscam novos contatos e evitam proximidades com novas pessoas.

Demonstram desconfiança em relação às pessoas e ao mundo, não se sentindo acolhidas e cuidadas.

Normalmente apresentam comportamento de fuga/esquiva e pouco exploram o mundo ao seu redor. Parecendo independentes e solitárias.

Apego ambivalente (resistente):

Padrão em que o bebê torna-se ansioso antes da ausência do cuidador principal.

Fica extremamente perturbado com sua ausência e ao mesmo tempo em que o procura, quando o cuidador retorna, resiste ao contato.

As crianças com apego ansioso-ambivalente parecem não se sentir tão à vontade para explorar o ambiente, apresentando comportamentos ora de aproximação, ora de evitação, em relação às figuras de apego.

Também não se sentem seguras de si mesmas e apresentam baixa auto-estima.

Sentimentos de raiva e carência são alternadamente expressados em crianças com apego ambivalente.

Apego desorganizado:

Padrão em que o bebê, após a ausência do cuidador principal, demonstra comportamentos contraditórios quando ele retorna.

Crianças que apresentam esse tipo de apego são contraditórias, impulsivas e não seguem um único padrão de comportamento.

São inconsistentes, medrosas e possuem histórico de abandono e descuido.

Agora, como podemos contribuir para o estabelecimento de um apego e afeto positivo no bebê que acaba de nascer?

Nas diferentes fases de crescimento e desenvolvimento dos bebês, temos muitas oportunidades para criar esses laços e promover um apego seguro.

Assim, podemos dividir as necessidades de apego dos bebês de acordo com a idade:

0 a 3 meses – exterogestação

Nesse período, o bebê ainda está reconhecendo o ambiente fora da barriga.

Ele ainda precisa ter contato com aquelas referências que tinha dentro do útero: ouvir os batimentos cardíacos e a voz da mãe e do pai, receber calor, uma certa contenção de seus movimentos.

O contato físico é muito importante para ele, por isso o uso do sling é uma ótima opção.

Além disso, é preciso entender que amamentar várias vezes por dia faz parte do processo (afinal de contas, dentro da barriga ele nunca havia sentido fome).

A partir dos 3 meses – observando o mundo

Agora, a relação mãe/pai e filho já está bem estabelecida e os pais já estão mais confiantes no seu papel.

O bebê já interage com seus cuidadores com vocalizações e caretas.

Os melhores estímulos para o bebê nessa idade são a conversa olho no olho e o brincar junto.

O bebê passa a ter mais contato com o chão, aprende a rolar e depois começa a querer sentar – tapetes de atividade podem ser muito úteis.

A partir dos 6 meses – separação

Começa a introdução alimentar e com ela uma gradual separação entre mãe e bebê.

A mãe deixa de ser a única fonte de nutrição do bebê e ocorre um novo “corte no cordão umbilical”, uma nova adaptação será necessária.

Para a mulher, surge nessa fase um sentimento de dualidade entre querer que o bebê aceite os alimentos, o que é socialmente esperado, e a constatação de que o bebê já não precisa tanto dela para se alimentar.

Esse sentimento pode impactar nos progressos da introdução alimentar.

Uma grande diferença agora é que o bebê não vai mais exclusivamente mamar e olhar para a mãe, mas passa a comer sentado olhando para o mundo.

Isso vai impactar também na sua forma de ser amamentado, pois ele vai querer olhar para o entorno enquanto mama.

O colo ainda é o melhor lugar do mundo, mas ele vai passar a se mostrar mais interessado em descobrir o mundo a sua volta.

A partir do engatinhar, ele começa a ser mais dono dos seus interesses.

Por isso é importante oferecer um ambiente seguro, para que ele possa explorar e ir ao encontro de sua curiosidade.

Nesse momento, o colo, o afeto e o apego consistem em possibilitar que o bebê explore o mundo e possa voltar para a mãe, pai ou o cuidador sempre que precisar.

O papel dos cuidadores é garantir a segurança necessária para ele começar a dar seus primeiros passos e aprender a andar.

Acima de 12 meses – novas conexões

A partir dos 12 meses, cabe aos cuidadores abrir espaço para novas formas de estabelecer contato e vínculo.

É o momento de criar novas formas de conexão para além da amamentação, colo e sling.

Penso que deve ser estabelecida uma nova relação que possibilite a amamentação quando o bebê precisar efetivamente do leite como fonte nutricional e às vezes para um chamego.

Mas convido as mães a refletirem sobre o verdadeiro fim das mamadas, já que o amamentar não é a única forma de oferecermos conforto e afeto.

Há outras formas de afeto que poderão ser mantidas ao decorrer dos anos e que irão contribuir para a formação e fortalecimento de vínculos: ler, passear, brincar, cantar, envolver o pai ou outro cuidador.

Pode se oferecer outras formas de lidar com um bebê entediado, com medo ou sono.

 

Convido os pais que ainda não acharam seu espaço a participar mais ativamente.

As mães, a falarem e conversarem com a criança, mesmo que seja para dizer eu sei que você está cansada, sei que está com medo, lidar com esses sentimentos e deixar a criança verbalizar o que sente ao invés de usar sempre o seio.

As vezes penso que, sem querer, podemos estar usando o seio como um silenciador dos sentimentos da criança.

Eu acredito que a criação com apego não possui relação com práticas “determinadas”, como livre demanda, cama compartilhada, uso do sling ou outros.

Mas sim, garantir ao bebê segurança e espaço suficientes para que ele possa crescer para além de seus pais com tranquilidade e desenvoltura.

* FONTE: BOWLBY, J. A. Formação e rompimento dos vínculos afetivos. São Paulo: Martins Fontes, 2006.



Sobre o autor

Dra. Fernanda Lima

2 Comentários em “Desenvolvimento infantil e criação com apego”

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *